sábado, 18 de fevereiro de 2012


Sem diálogo não há fé nem amor

Publicado: 25/01/2012 em Amor ao próximoDiálogoEspiritualidadeIgreja dos nossos dias,OraçãoPecadoRelacionamentoSofrimento
Vivi recentemente diferentes situações com princípios bem parecidos que me levaram a refletir sobre um mal que assola os nossos dias: a falta de diálogo. Não foi uma, não foram duas vezes, não foram três. Foram muitas situações similares num espaço de tão poucos dias que isso me fez ver que, mais do que uma postura pessoal, há um fenômeno social em andamento. Pessoas tomam decisões unilaterais e apenas comunicam as outras partes envolvidas, pressupondo que o interlocutor sabe todas as suas razões e motivações. Seria apenas mais um entre tantos fenômenos sociais se isso não fosse um tremendo erro do ponto de vista antropológico, que contraria séculos de padrões estabelecidos e que tem adentrado as igrejas e estragado relacionamentos – e, consequentemente, a comunhão sem a qual não existe Igreja.
Na Grécia antiga, a retórica era uma das artes mais apreciadas. Havia aulas sobre como dialogar bem – e convencer. A capacidade de empreender debates e, pela força dos argumentos, mostrar-se certo em determinado ponto era vista como admirável. O filósofo Sócrates foi mestre nisso, com sua “maiêutica socrática” – método de extrair a verdade do interlocutor mediante argumentos bem postos dentro de um diálogo. Mas o que percebo é que nessa era de trevas em que vivemos no século 21, a falta de diálogo está se tornando a tônica. Não se espante de eu usar essa expressão. Mas fato é que o século 21 está se tornando uma era de trevas: todos querem falar, ninguém quer ouvir. Resultado: caos.
No Cristianismo, sem diálogo não existe a fé: eu falo pela oração, Deus responde pela Bíblia. Isso é diálogo. Remova oração ou leitura da Palavra e você tem uma religião capenga, o religare com Deus não acontece. Deus não quer só falar ou só ouvir: Deus quer relacionamento. Pois só o verdadeiro relacionamento gera intimidade entre Criador e criatura. Evita mal-entendidos. Evita heresias. Evita que compreendamos mal o nosso Deus. O cristão não é um cristão se não sabe dialogar, pois ser filho de Deus pressupõe saber pôr em prática essa disciplina espiritual chamada “diálogo”. E Deus tem tanto conhecimento da importância do diálogo que revelou seus pensamentos naquilo que hoje chamamos de Bíblia.
Vivemos uma era individualista. Egocêntrica. Pós-relativista. “Se eu tenho a minha verdade, por que vou perder tempo dialogando, se a sua verdade é diferente?”, diria o pensamento desta época. E esse individualismo gera o mal do egoísmo: eu faço da minha forma e os outros que entendam e se enquadrem no que eu pressuponho. “Eu uso poucas palavras e que se virem para compreender o que se passa na minha cabeça”. Só que, nisso, decisões importantes, que podem mudar rumos de vidas inteiras, são lançadas ralo abaixo. Relacionamentos que tinham tudo para gerar muitos e muitos frutos são assassinados.
E quando falo de diálogo não me refiro a conversas. Há uma sutil diferença. Você pode conversar com alguém apenas falando e esperando a vez de falar de novo enquanto a outra pessoa diz algo. Não se escuta. Não se presta atenção nos argumentos. “Eu entro na conversa, desde que não tenha que mudar de opinião”, vê-se muito por aí. É velado, mas é o que acontece. Só queremos convencer. E a igreja tem vivido isso. Relacionamentos acabam porque casais não dialogam, só querem falar ou fazer as coisas ao seu modo mas não querem ouvir ou ceder. Relacionamentos são estragados porque o parente não entende o que o outro está falando. Casamentos vão por água abaixo porque tem que ser do jeito que um quer e acabou. Amizades são abaladas porque um diz “banana” e o outro compreende “maçã”. Cristãos se desviam da igreja porque o pastor não apresentou as razões de determinada doutrina existir. E aí o que deveria ser uma calma troca de posicionamentos e ideias construtivas vira bate-boca, discussão, não raro com troca de ofensas e argumentos inacreditáveis entre pessoas que se gostam.
Uma das causas dessa falta de diálogo que identifiquei em muitas dessas situações é a pressuposição da “onisciência” alheia. “Eu esperava que você entendesse x quando eu disse y”, dizem. Como? Telepatia? Não é assim que se dialoga. Se você quer tomar decisões que envolvam outros, nunca pressuponha que ele vai conseguir ler todas as suas entrelinhas. É desumano fazer isso. Principalmente se você diz coisas como “estou tomando essa atitude mas você nunca compreenderia”. Como você pode saber? Num dos casos que vivi, quando a pessoa me explicou eu entendi tudo. Então como não entenderia antes? Pior: todos os argumentos dela faziam todo sentido do mundo e eu teria concordado com tudo caso fosse inicialmente exposto em forma de… diálogo. Teríamos trocado ideias e estabelecido bases como dois adultos que se respeitam e se gostam, com alegria e um sorriso no rosto. Pronto, resolvido, todos sairiam felizes e realizados. Mas não. Chegou em forma de imposição de ideias e todas as coisas maravilhosas que poderiam ter surgido desse diálogo foram atiradas no lixo por esse equívoco banal. Que lástima.
Outro fenômeno comum é tomar decisões sem ponderar com o outro ou com outros antes. “Na multidão de conselhos reside a sabedoria”, diz a Biblia. No entanto, nesta era individualista, queremos tomar nossas próprias decisões e apenas comunicar. Não chamamos o outro, não pedimos opinião, falamos o que queremos mas sem disposição de ouvir o que não queremos. Não estamos preparados para isso. É a época da comida a quilo: não quero ninguém me dizendo o que pôr no meu prato. O resultado? Confusão, desentendimento, atritos, ofensas… tudo fruto da falta de diálogo causada por decisões unilaterais.
Irmão, irmã, vivemos em comunidade. Vivemos em familia. Vivemos em relacionamentos amorosos a dois. Vivemos em ambientes de trabalho onde equipes trabalham juntas. Vivemos em igreja. Vivemos com amigos. E a experiência mostra que em ambientes ditatoriais, onde não há conselheiros, onde não se expõe uma ideia para ser debatida e discutida pelas partes envolvidas, geralmente os erros são homéricos. O Presidente não toma decisões sozinho. Ele tem uma equipe com quem se aconselha, pondera, ouve, fala… dialoga. Porque há muito em jogo e ele sabe disso.
Quer que seu namoro dê certo? Não tome decisões e depois “comunique”. Antes, dialogue, exponha sua visão, pondere, ouça o outro. Leve em conta a visão dos envolvidos como tão importante como a sua (e às vezes até mais). Quer que seu casamento dê certo? Antes de definir como serão certas coisas, dialogue com o cônjuge e, dependendo da extensão da questão, com os filhos. Quer que sua amizade dê certo? Não se imponha com suas visões e opiniões, mas ouça o que o outro tem a dizer. Mas não é o que vem acontecendo. No calor da tomada de decisões o indivídulo pós-relativista toma sua decisão e “informa” os demais envolvidos. Não há espaço para ponderação. Não há espaço para humanidade. Há uma bomba jogada no colo. E que se vire quem a recebeu.
Meu irmão, minha irmã, seres humanos não são oniscientes. Você quer que eles entendam o que você pensa? DIALOGUE com eles. Não pressuponha que eles vão te compreender por serem pessoas “sensíveis” ou o que for. Ninguém vai saber o que você pensa, quais são suas razões e motivações, quais são os seus projetos e planos… se você não fala. Veja você que coisa simples. Basta falar. Expôr. Apresentar ideias. Ouvir as ponderações. O filósofo Hegel nos ensinou isso com sua dialética: apresenta-se uma tese, OUVE-SE uma antítese e assim se chega a uma síntese. Mas, pelo visto, a dialética hegeliana está ficando fora de moda e estamos voltando à idade dos césares, em que um decide e os outros abaixam a cabeça – não importa que motivos, razões, raciocínios, caminhos ou ideias foram levados em conta para se tomar a decisão.
“Eu decidi Z e tome Z na sua cabeça!”. “Mas… peraí… e como você chegou até Z e me impõe Z se eu não conversei sobre o A, sobre o B, sobre o C… você já chega com o Z e quer que eu entenda como você chegou até aí? Isso é no mínimo injusto, pois não me foi dada a oportunidade de dialogar de A até Y”. Eu, por exemplo, escrevo livros. Mas nunca os entrego à editora sem ter pedido que pelo menos 4 ou 5 pessoas o leiam e me passem opiniões – e a experiência mostra que isso afeta muito positivamente o resultado final. Detalhe: faço isso ANTES do livro ser lançado. Depois… o que adiantaria?
Estou mal com esse fenômeno. Tenho visto isso ocorrer com muita frequência. As pessoas estão desaprendendo a dialogar. Como disse Chaplin, estamos nos tornando cada vez mais desumanizados e  individualistas. Nos tornamos como máquinas, que apenas emitem tickets e o cliente que o recolha. E não queremos ouvir os outros. Queremos que eles nos entendam sem que lhes digamos nada. E, e-vi-den-te-men-te, o outro entenderá do jeito que quiser, pois para cada imposição há milhões de interpretações. A respeito de motivações, de raciocínios, de planos. É uma tremenda injustiça esperar a onisciência alheia. Ninguém tem a obrigação de saber nada se não dialogamos antes. E se impomos algo, a responsabilidade é nossa e não de quem não nos compreendeu.
Nas igrejas, esse fenômeno provoca êxodos. Gera desviados. Espera-se de você algo que nunca te foi dito. Que nunca te foi explicado. Que nunca foi ponderado. Que você nunca teve a chance de perguntar por que é desse modo. E o que acontece? O óbvio: a pessoa pula fora, por uma única razão: não entendeu. Não houve diálogo. A liderança não explicou. Os membros mais antigos não explicaram. Ninguém quis saber de explicar. Apenas se impõem ideias e conclusões. E isso não é cristão.
Veja as bem-aventuranças. Sempre existe um “pois” em cada uma delas. Ou seja, uma explicação, uma justificativa. “Bem aventurados os que choram”. Que coisa bizarra! Como assim? “Bem-aventurado” significa “feliz”, como podem ser felizes os que choram, que contrassenso!? Mas aí vem a explicação, o diálogo: “POIS… serão consolados”. “Aaaaaahhhh!!! Agora eu entendi! Existe uma explicação, existe um ‘pois’. E agora que ficou claro podemos dialogar e chegar juntos a essa conclusão”.
O diálogo torna tudo mais humano, mais honesto, mais cristão. Sem diálogo não há amor. Quem impõe sem dialogar antes exerce a tirania. E a tirania tira de quem a promove o direito de julgar a reação de quem apenas recebeu a informação final e foi excluído dos diálogos – daí as sublevações históricas e as revoluções contra governos tirânicos. Lição que aprendi em meu primeiro dia na faculdade de Jornalismo: “Comunicação não é o que se fala, é o que se entende”. No entanto, estamos entendendo tudo errado. E por quê? Porque se fala mal. Não se explica. Não se dialoga.
Meu irmão, minha irmã, se você percebe que está se relacionando com o próximo sem o diálogo correto, conserte isso. Nunca é tarde demais. Você pode evitar assim que, no futuro, Deus tenha de te ensinar a dialogar. E sabe como Ele fará isso? Mostrando a você o que sofre aquele que é alvo da sua falta de diálogo ao simplesmente impor decisões a você. E se Ele resolver te disciplinar dessa forma, você se juntará aos milhares que vemos pelas igrejas se lamuriando pelos cantos e chorando: “Por quê, Senhor, por quê???”. E o Onisciente permanece em silêncio, sem responder a esse clamor. Pois o que Ele está fazendo com os tais é basicamente lhes ensinar como sofre quem recebeu imposições sem resposta. Está ensinando a importância de expôr as razões e as motivações que levam alguém a tomar esta ou aquela decisão dialogando com o próximo. Pois, quando você impõe uma decisão que foi tomada sem diálogo, o pobre e pasmo interlocutor fica se perguntando em meio a sofrimentos: “Por quê? Por quê?”. E interessa a Deus que Seus filhos aprendam a não fazer isso – pois machuca e é uma maldade.
Razões são importantes em relacionamentos. Motivações são importantes em relacionamentos. Objetivos são importantes em relacionamentos. Métodos são importantes em relacionamentos. Diálogos… ah, esses são imprescindíveis. E são uma gigantesca prova de amor daqueles que se importam com você.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.


Casamento sem amor entre cristãos

Publicado: 15/02/2012 em AmorEspiritualidadeFelicidadePecadoRelacionamento,SaudadeSofrimentoSolidão
Muitos amigos do APENAS constantemente me pedem para escrever sobre os mais variados assuntos. Os três mais pedidos sem dúvida são dízimo, prosperidade e amor. Sobre o dízimo já aviso que estou escrevendo um post enorme sobre isso. Mas como vivemos numa época em que muitos líderes-celebridades (geralmente desigrejados ou emergentes) equivocadamente estão ensinando que não é preciso mais praticar esse ato milenar e muitos estão realemte acreditando nisso, é preciso escrever de forma muito bem alicerçada na Bíblia. Sobre a falsa prosperidade, escrevi o post “A Demonologia da Prosperidade“, que trata da Teologia da Prosperidade a fundo. E para quem me pergunta sobre qual é a verdadeira prosperidade do cristão eu sempre recomendo que leia um pocket book que esgota o assunto: “Prosperidade” (custa só R$ 4,90). Tudo o que eu poderia dizer está ali, então me sentiria redundante de abordar o tema aqui. E sobre o amor, a causa é o post “Solitários, carentes e infelizes“, que levou e ainda leva  uma enorme quantidade de pessoas a me escrever pelos comentários aqui do APENAS, pelo twitter e até por e-mail contando experiências desastrosas e muito tristes em suas vidas matrimoniais. São muitos e muitos casos de pessoas que casaram por razões erradas e agora vivem vidas infelizes, para não dizer miseráveis. Houve até quem tentasse o suicídio. Por isso, sendo um dos três assuntos mais levantados,  retorno a ele, sem o objetivo de ferir qualquer sensibilidade, mas sim edificar, exortar e consolar.
A verdade é que o amor existe desde a eternidade. A Bíblia diz que “Deus é amor”, portanto a Trindade convive em amor desde sempre. Isso faz dele um dos sustentáculos da existência, sem o qual nada haveria. O Filho ama o Pai, o Pai ama o Filho. Ambos amam o Santo Espírito, que os ama em retorno. E é um amor perfeito. Portanto, quando Gênesis relata a conferência santa em que o Criador, no ato da criação, diz “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26a), o que as três pessoas que formam o Deus Uno estão praticando é um enorme ato de amor: criar um ser que replique, mesmo que de modo imperfeito, aquilo que elas já viviam desde a eternidade. Logo, quando eu e você amamos, simplesmente estamos reproduzindo uma sombra daquilo que o Altíssimo faz com toda perfeição desde sempre.
Embora muitos não saibam, a famosa passagem de 1 Coríntios 13 não fala do amor humano, mas do ágape, que no grego se refere ao amor divino. Aquilo que ali está escrito simplesmente é inaplicável em sua plenitude num relacionamento humano, por mais que um casal se ame ao extremo. Só que, como fomos criados para imitar ou no mínimo nos esforçarmos ao máximo para mimetizar o que é de Deus (isso está claro ao lermos Jesus dizer “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus – Mt 5.48 – e Paulo afirmar “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo – 1 Co 11.1), podemos dizer que o amor de 1 Coríntios 13 é o alvo para os que amam, é nosso ideal utópico – por perfeito que é. Então é bonito que se refira a essa passagem num casamento, por exemplo, como o exemplo máximo do amor que nunca conseguiremos viver mas que devemos perseguir a todo custo. Pois há beleza e propósito na utopia.
A Trindade se ama pelas razões certas, por o amor de cada uma das três pessoas está tão entranhado que seria impossível dividir essas três entidades. Por isso são três mas são um: nesse mistério indecifrável para a limitada mente humana, fica claro que o perfeito amor entre Pai, Filho e Espírito Santo torna totalmente impossível que se afastem ou se separem, pois se amam tanto que sua unidade é absoluta e irremovível . Veja as palavras do Pai no batismo do Filho em Mt 3.17: “Este é o meu Filho AMADO, em quem me agrado”. E nesse momento em que o amor é declarado, quem aparece na forma de uma pomba, pousando sobre Ele e, assim, chancelando esse amor? O Espírito de Amor (Rm 15.30; Gl 5.22).
E nós, reles humanos errantes?
Aqui descemos do campo da realidade celestial perfeita para a difícil e imperfeita esfera humana. Botamos os pés no chão. Pois a verdade é que vivemos enfiando os pés pelas mãos. Conhecemos e praticamos um amor equivocado, cheio de falhas. Se nosso amor tomasse forma de uma ave provavelmente não seria uma pomba, mas uma ave de rapina, de tão imperfeito que é se comparado ao ágape divino. Deus criou um modelo perfeito para o relacionamento entre homem e mulher. Mas muitos não o praticam por suas próprias teimosias, por sua concupiscência ou por pressão externa. E isso é apenas um reflexo de nossa forma errada de amar: queremos viver o amor ao nosso modo e não ao modo de Deus. E aí começa toda a enxurrada de erros que nos distanciam do Senhor, nos tornam equivocados e provocam tristeza e infelicidade em milhares de cristãos dentro de seus casamentos. Por fim, isso resulta numa vida de melancolia e frustração e, frequentemente, em adultérios e divórcios.
Dentre todos os relatos que chegaram até mim, as principais causas que levaram cristãos a casamentos infelizes estão o medo da solidão, a idéia de que “está passando da idade de casar”, a vontade de ter filhos e o aspecto estético ou moral do outro. Vamos então falar um pouco sobre cada um desses aspectos à luz do amor ideal, que é o da Trindade.
Os 4 erros principais
O primeiro erro que leva cristãos a serem infelizes em seus casamentos é a escolha do cônjuge por questões estéticas ou pelo fato de ele (ou ela) apresentar pequenas boas qualidades.  Esses, na verdade, não se casam com uma pessoa, mas com uma aparência ou com um bom caráter.  Errado.  “Ela era linda!”, costumam dizer os homens. “Eu queria me casar com um cristão, ele, dos solteiros da igreja, me parecia o mais espiritual, o mais legal, o que mais me agradava… aí eu casei com ele”. Pobres almas.  Essa é a razão mais distante do ideal divino. Deus é espírito. Ele é incorpóreo. E, na encarnação do Verbo, Isaías 53.2b fala a respeito de Jesus que “Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada havia em sua aparência para que o desejássemos.”. Logo, o amor entre os membros da Trindade jamais pode ser atribuído a qualidades físicas ou estéticas, nem a “ser alguém legal”.
Mas, isso sim, à essência, ao conteúdo, ao que há de mais profundo em cada pessoa da Trindade. O Pai ama o Filho por quem Ele é. E vice-versa. Eu Sou, apresenta-se a Moisés. O Espirito Santo é. Sua essência é pura como uma pomba branca. A essência de toda a divindade, seu conteúdo, seu interior… é isso que faz dela uma unidade em amor. Não é a beleza de um homem nu, cuspido, sanguinolento e desfigurado numa cruz que faz o Pai ou o Espírito amá-lo, pois aquele feito maldição pendurado no madeiro era alguém com substância e solidez, digno de amar e ser amado. Tanto que em Apocalipse só Ele é digno de abrir os selos. Jesus continua sendo amado de eternidade a eternidade: após sua ascenção e glorificação, onde Estevão o vê na hora de seu apedrejamento? Junto ao Pai amado. Por isso, uma pessoa casar-se pelo físico é entrar pela contramão do que motiva o amor divino. Casar porque “ele é um cara legal” é infringir essa verdade básica. E com isso pecam. E se condenam à infelicidade, pois beleza e gentileza mudam com o tempo. Essência não.
Outros cristãos se casam para realizar o sonho de ter filhos. Errado. Biblicamente, o filho é a consequência do amor entre um homem e um mulher e gerar um filho jamais pode ser a causa de uma união. É uma inversão biblicamente absurda. Isso é  como se a Trindade se amasse apenas para que nós existíssemos. O que é, por isso mesmo, um pensamento herético. Como se a humanidade fosse a razão de a Trindade existir. Na verdade, unir-se a alguém apenas para ter um filho é uma subversão da essência e da razão do amor e uma afronta à essência de Deus. É virar ao avesso o que significa ter sido criado à imagem e semelhança do Todo-Poderoso. Mas muitos fazem isso. E, como rompem a ordem humana que mimetiza a divina, atraem para si deformidade espiritual. E com isso pecam.
Alguns cristãos se casam porque acham que estão passando da idade. Errado. O amor divino ignora o tempo, por ser eterno. Não teve começo nem terá fim. O importante então não é o “quando”, mas o “com quem”.  Isso é absolutamente elementar na Bíblia mas, infelizmente, nossa sociedade mundana alterou esses valores – que invadiram o pensamento nas igrejas. O relacionamento motivado pelo tempo, quando aplicado à humanidade, torna-se uma sublevação contra o que é relevante para a divindade. No batismo de Jesus, o Pai não diz que João Batista é seu filho amado. Ele aponta o verdadeiro amado. Logo, biblicamente importa a pessoa, se queremos amar nos moldes que o Senhor estabeleceu, enquanto o tempo é irrelevante. Por isso que casar-se porque se está “passando da idade” ou “ficando para titia” é uma aberração bíblica e as igrejas deveriam urgentemente parar de pressionar seus membros a casar cedo – mas sim ensinar a casar certo. Pois casar devido ao tempo e não à pessoa é pecado.
Por fim há os que casam com medo da solidão. Errado. Maridos e esposas não são damas de companhia. São pessoas que se fundirão e se tornarão um só, mais uma vez repetindo o padrão divino de pessoas distintas que se tornam um Uno. O amor entre Pai, Filho e Espírito Santo há porque sao pessoas que se amam. Parece redundante? E é. Não eram três pessoas distintas que vagavam pelo espaço solitárias e por isso resolveram se unir. Não. A essência dos três é igual. Os atributos dos três sao os mesmos. Todos são onipotentes, oniscientes, onipresentes, justiça, santidade.
Do mesmo modo, na nossa cópia imperfeita e humana dessa relação devemos nos unir somente e tão somente a alguém que nos complete em essência, cujo espirito se funda ao nosso, que  nos faça plenos. Casar com medo da solidão é não compreender que o amor divino vive justamente devido a essa compleitude e não o contrário. A Trindade não existe para realizar a compleitude e assim aplacar a solidão, mas, por ser amor, a solidão deixa de existir. É justamente o inverso.
Quando Jesus brada ao Pai na Cruz perguntando: “Por que me abandonaste?!” foi claramente uma expressão de saudade do Ser amado e jamais um grito desesperado de alguém solitário. O Filho sabia com toda certeza que o Pai estava ali e que Ele não tinha sido abandonado. E eu provo: quais são suas últimas palavras? “Pai, em tuas mãos entrego meu Espirito”. Ora, se Jesus achasse que tinha sido abandonado não conversaria com o Pai – logo, o Cristo sabia que não estava só. Seu brado era puramente de saudade. Saudade de quem se ama.
Portanto, nós, humanos, nunca devemos nos casar pela razão errada do medo da solidão, mas única e exclusivamente por sentirmos uma saudade tão avassaladora da pessoa amada que nos sentimos abandonadas quando ela não está por perto. Isso é amor. E negligenciar isso… é pecado.
Palavras finais
Muitos e muitos relatos chegam a mim de cristãos infelizes em suas vidas matrimoniais. Casaram-se por diversos motivos errados. Há ainda os que já namoravam há muito tempo e tiveram de decidir se casar ou se separar; os que tiveram relações sexuais e engravidaram, sendo forçados pelas famílias a se casar; os que casaram para não se abrasar… enfim, há uma grande gama de razões que levam os cristãos a se casarem pelos motivos errados. Procurei abordar aqui as quatro que são mais frequentes de acordo com o que chega até mim da parte de irmãos muitas vezes desesperados por não saberem o que fazer. E eu sempre desaconselho o divórcio, pois “Deus odeia o divórcio” (Ml 2.16).
Para os que já vivem casamentos infelizes, acnselho a que busquem na oração e na graça de Deus o alento para suas feridas. E meu conselho principal fica então para os que ainda não se casaram: só se case pelas razões certas. Siga o exemplo da Santíssima Trindade, que é amor, é una em amor e a partir de cuja imagem e semelhança fomos criados. Portanto, a Trindade é o nosso modelo e exemplo. Seguir qualquer caminho no âmbito do amor que não esteja de acordo com o padrão da Trindade representa desobediência a Deus. E desobediência a Deus é sinônimo de pecado.
Portanto, um cristão se casar pelas razões erradas representa a certeza da infelicidade no futuro e, mais do que isso, representa uma vida de mentiras e pecado. Seja cristão não apenas de boca. Aja como tal e ame como tal. Ou seja: como Deus ama.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Ordem e decência no culto

Publicado: 17/02/2012 em EspiritualidadeFruto do EspíritoGraçaIgreja dos nossos dias
Você chega ao teatro. A peça começa, mas um monte de gente continua entrando, falando alto, procurando lugar para sentar. Quando você se dá conta, perdeu boa parte das falas dos atores porque os atrasildos chamaram tanto sua atenção que prejudicaram a compreensão da peça. Ou então você vai ao cinema. Chegam os atrasildos. Pedem licença para passar, pois querem se sentar nas cadeiras vazias da sua fileira. Esbarram em você, esmagam suas pernas, pipocas caem no seu colo, desconcentração total. Ou entao aquele concerto de música maravilhoso. A Orquestra Sinfônica Brasileira dá os acordes iniciais da sua sinfonia preferida e, quando o maestro está a pleno vapor… lá vêm os atrasildos de plantão, fazendo barulho, caminhando por entre as fileiras, esbarrando em você para passar e prejudicando totalmente o seu deleite musical.
Pergunto eu: em alguma dessas situações você ficaria feliz?
Qualquer pessoa acharia esses atrasildos muitíssimo incômodos. Pois sua atitude demonstra desrespeito com o público que chegou na hora certa, com os artistas, com o significado daquele evento. E, convenhamos, se você e um dos atrasildos, por qualquer razão que seja, perdeu boa parte da programação simplesmente porque não chegou na hora. Tenho certeza de que você não chega atrasado ao cinema, ao teatro,  a um concerto: chega antes, com calma, compra seu ingresso, escolhe seu assento, não incomoda ninguém… Tudo com ordem e decência.
Curiosamente, quando o assunto é igreja parece que a lógica muda completamente. Muitos e muitos chegam com o culto já iniciado. E aí pronto: aquele irmão que chegou cedo, fez suas orações e começou a louvar na hora certa é quem sai prejudicado pelos atrasildos. Não
existe nada pior do que você estar de olhos fechados, cantando louvores para seu Deus, em total comunhão  e, de repente, umas batidinhas no ombro: “Dá licença para eu passar?”, diz o atrasildo. Parece que você despenca do Céu. O mínimo que se poderia esperar de uma pessoa educada é que, chegando atrasada, esperasse o fim da música para pedir licença. Mas não. Muitos não se incomodam de atrapalhar quem está num momento de profunda devoção, de olhos fechados, em adoração: “Dá licença pra eu passar?”. Tremendo desrespeito. O correto? Esperar em pé no corredor a música terminar, para não penalizar os demais por um desleixo seu com a hora.
Geralmente os cultos se iniciam com o louvor. Então parece na cabeça de muitos que aquilo ali é só um prelúdio musical para o culto de fato, que seria somente a pregação. Que engano enorme! O culto começa no “bom dia” ou no “boa noite” do pastor. O louvor é um momento importantíssimo, quando dizemos a Deus quem Ele é, o que representa para nós, destacamos seus feitos e o entronizamos em seu lugar de honra e glória. Mas para os atrasildos isso parece que não é importante, como se fosse apenas uma cantoria chata e dispensável.
E há ainda aqueles que, quando a pregação ou a ceia termina, pegam suas coisas e saem antes do final. Desprezam a benção de encerramento, a comunhão, os apertos de mão e os abraços que encerram o culto. Desprezam a oração final. E por quê? Em geral porque querem evitar a pequena fila que se forma na saída da igreja. Meu Deus, abrem mão de momentos preciosíssimos para evitar uma filinha! Deixam de receber a oração e a benção finais para não ter de levar 30 segundos a mais para sair da igreja! Claramente não entendem o que é o culto.
Um culto público em uma igreja tem começo, meio e fim. Cada parte tem sua razão de ser e sua importância. Chegar atrasado ou sair antes do final simplesmente é desrespeitar e incomodar quem chegou e vai embora na hora, é desprezar os momentos abençoadores do início e do fim e, honestamente, demonstra que a pessoa não compreende a importância de um culto a Deus vivido em sua plenitude. Ser pontual na igreja é uma atitude espiritual. E mais: é educado. É polido. Demonstra respeito por Deus e pelo próximo.
Chegue aos cultos como você gostaria que Jesus respondesse as suas orações: o mais cedo possível. E, de preferência, até mesmo antes do que se esperaria. E fique até o momento em que gostaria que Jesus ficasse na sua vida: o último instante.
Comportamento sintomático
Esse fenômeno é sintomático. Nós externalizamos o que vivemos interiormente. Este texto que você está lendo na verdade é a união de dois artigos que escrevi para duas edições do Jornal Sal da Terra a pedido do meu mano Carlos Alberto Simões sobre esse tema: “Ordem e decência no culto”. Pois quando ele me pediu que escrevesse um texto sobre isso, minha reação imediata foi falar sobre as instruções de Paulo em 1 Coríntios 14. No contexto, o apóstolo está falando sobre a igreja da cidade de Corinto, em que a manifestação dos dons espirituais estavam transformando as reuniões em uma tremenda bagunça, com irmãos falando em línguas e profetizando sem nenhum controle ou organização. Com isso, os cultos da igreja grega tornavam-se balbúrdias em que não se conseguia de fato cultuar Deus. Sempre que lemos esse capítulo, em especial o versículo 40, vemos como é importante que os encontros na igreja ocorram segundo uma liturgia em que haja um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar.
A grande dificuldade para se falar disso em nossos dias é que a Igreja no Brasil se tornou tão heterogênea que o que é confusão em uma pode ser a prática normal em outra. Na congregação pentecostal em que me converti, por exemplo, é normalíssimo e até esperado que durante a pregação as pessoas fiquem dando glórias a Deus em altos brados. Se isso não ocorrer é capaz de dizerem que “o pregador nao tinha unção”. Já na igreja em que congrego hoje, ao contrário, certamente isso seria um problema, pois o hábito local é que todos ouçam o sermão em silêncio. Então, o conceito de ordem e decência no culto é muito variável, dependendo da denominação e da cultura local de cada igreja.
Mas há um conceito que podemos absolutizar em toda e qualquer igreja evangélica brasileira, em toda denominação, em todo culto: não a manifestação externa de ordem e decência, mas a manifestação interna. As perguntas que traduziriam esse conceito seriam: como anda sua alma e sua vida com Deus fora das paredes do templo? Em ordem? Em decência? Pois bagunça interior leva a bagunça exterior.
Mais importante do que um culto coletivo em que não haja balbúrdia nem desorganização é um culto individual em que o adorador se aproxime de Deus com o coração ordenado e decente. Pois de que adianta o irmão chegar e partir domingo da igreja com a alma parecendo uma cama desarrumada? Com pecados não confessados, atitudes hipócritas e falta de amor no coração? Isso sim é bem mais grave.
Pois, dependendo da cultura de sua denominação, você pode glorificar em alta voz, falar em línguas, saltar e erguer as mãos no louvor… Mas se sua alma estiver indecente diante de Deus isso tudo é inócuo. Ou, se o hábito na sua igreja for cultuar em silêncio, de forma mais formal e sem grandes manifestações externas… Se seu coração estiver desordenado isso tudo também é inócuo.
Importa que nossos cultos transcorram em paz. Que a expressão de entrega do fiel a Deus aconteça coerentemente dentro do contexto de cada cultura denominacional e local. Você sabe bem o que se espera em termos de comportamento dentro da tradição da igreja em que congrega e não preciso lhe ensinar isso – seu pastor o fará. Mas importa muito mais, e isso nunca é demais lembrar, que você se achegue ao Santo dos Santos com sua vida em ordem e decência. Isso em qualquer contexto em que esteja. Portanto, se você notar que está vivendo um pecado constante, busque limpar-se. Se existe alguém com quem você cortou relações e não fala mais, reconcilie-se com ele antes de levar a oferta ao altar. Se o Espírito Santo lhe mostra que algo em sua vida precisa ser mudado, não espere o dia de amanhã.
Conserte-se hoje. Aprume-se. Dê a outra face. Caminhe a segunda milha. Perdoe setenta vezes sete vezes. Purifique-se dos pecados. Humilhe-se. Suplique por misericórdia. Peça forças naquilo em que está fraco. Faça o que tiver de fazer! E isso pode começar com uma oração aqui, neste instante, com este post diante de seus olhos. Dirija-se a Deus em oração onde você estiver. Confesse seus pecados – você sabe quais são. E ponha sua vida em situação de ordem e decência. Se você fizer isso, seu culto a Deus será sempre bem recebido
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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Artigos públicados originalmente no Jornal Sal da Terra.
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